Exemplos disso são grupos como AfroReggae, Balé de Rua, Cria, Edisca e Projeto Axé, entre outros, que fazem ações culturais em comunidades marcadas pela pobreza e exclusão social, em áreas urbanas, periferias e cidades de pequeno porte. Foi em busca de conhecer mais projetos sociais cujas estratégias estão baseadas na força da arte e cultura, que o Centro de Estudos de Políticas Públicas (CEPP) acaba de concluir o Mapeamento de Experiências Sociais com Arte e Cultura no Nordeste do Brasil.

A iniciativa tem como objetivo identificar, registrar e divulgar essas experiências, especialmente aquelas voltadas ou lideradas por jovens. A pesquisa mapeou 572 experiências sociais com arte e cultura nos nove estados nordestinos. Começou em junho de 2005 e envolveu cerca de 20 jovens pesquisadores e 13 instituições parceiras, com o apoio financeiro da Fundação Kellogg. Como resultado, o mapeamento mostrou que a maioria desses projetos sociais com arte e cultura é liderada por organizações não governamentais (ONGs) que atuam em áreas urbanas com população acima de 100 mil habitantes, 77% são formalmente constituídas e a grande maioria não é novata: 72% dessas ONGs têm mais de 5 anos de funcionamento e quase a metade têm mais de 10 anos de experiência. Apenas um terço estavam localizadas em zonas rurais.

Os dados apontam o governo (municipal e federal) como principal financiador mas indicam uma fragilidade: cerca de metade desses projetos sobrevive com recursos de até R$ 10 mil por ano e mais da metade das pessoas que trabalham nessas instituições é voluntária, o que evidencia o impasse financeiro. “Chama a atenção o tempo de experiência desses projetos e também a fragilidade em termos financeiros, o que indica uma enorme persistência e força dessas iniciativas, que sobrevivem com pouquíssimos recursos”, avalia Beatriz Azeredo, uma das coordenadoras do mapeamento. “Há uma contradição entre a força, o potencial desses projetos e o baixo volume de recursos que mobilizam, indicando que há um trabalho a ser feito de divulgação e de mobilização de parceiros”, explica.

Apesar dessa realidade, 40% das organizações mapeadas geram receitas, o que, para metade delas, significa um aumento de 30% no orçamento, evidenciando o potencial a ser explorado na chamada “economia da cultura”.Mesmo com a pouca quantidade de recursos e com a baixa utilização de incentivos fiscais, juntas as organizações mapeadas envolvem diretamente cerca de 200 mil pessoas, a maioria com idades entre 7 e 24 anos. Entre os impactos gerados por essas iniciativas, o principal está ligado ao campo dos processos educativos, registrando mudanças no plano pessoal e social. Também são significativos os seguintes resultados: construção de novos valores; resgate e preservação da identidade cultural e da auto-estima; capacitação e inserção econômica no mundo artístico; e multiplicidade de linguagens, principalmente teatro, música e dança, mas também artesanato, artes plásticas e literatura.

O estudo apontou para o grande potencial de intercâmbio existente, evidenciando a demanda por espetáculos fora das regiões de origem e a disposição em trocar experiências através, principalmente de oficinas. No entanto, as necessidades dessas instituições sociais estão relacionadas à infra-estrutura e aspectos organizacionais: mais da metade necessita custear as atividades, equipamentos e materiais usados; em seguida vem a importância de melhorar o espaço físico e a qualificação da equipe.

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